Educação

Perfeição ao pé da letra

Aceitar os erros como parte da personalidade imperfeita indica sabedoria e inteligência emocional

Por tarcila frança
Imagens: Freepik / divulgação

Vivemos sempre buscando a perfeição, o bem-feito em sua excelência. O que as pessoas esquecem, muitas vezes, é que o certinho pode virar chato. E que o imperfeito tem entrada gratuita no melhor camarote. A arte entende bem disso, nas entrelinhas, que o incerto pode fazer as vezes do perfeito. Muitos artistas utilizaram-se de traços assimétricos para atingir a beleza. Que o diga Pablo Picasso no estilo cubista. Perseguir a perfeição, entretanto, pode traduzir um comportamento implicante ou até doentio. Um bom exemplo é a sociedade atual que prioriza notas altas em provas exaustivas que não traduzem, necessariamente, nem medem a inteligência do aluno.
Inteligência emocional é valorizar os pontos fortes em detrimento dos mais fracos e, por sua vez, elaborá-los da melhor forma. Entender que cada um é movido em determinada área e que a inteligência tem suas vertentes como a espacial e lógica, a com viés artístico, entre outras. O psicólogo americano Daniel Goleman trouxe o conceito sobre inteligência emocional estar relacionada à chamada inteligência social, o que significa um indivíduo emocionalmente inteligente como sendo aquele que consegue identificar suas emoções com mais facilidade.

“Inteligência emocional é valorizar os pontos fortes em detrimento dos mais fracos”

Uma das grandes vantagens das pessoas com inteligência emocional é a capacidade de se automotivar e seguir em frente, mesmo diante de frustrações. De acordo com Goleman, a inteligência emocional pode ser subdividida em cinco habilidades específicas: autoconhecimento emocional; controle emocional; automotivação; empatia e desenvolver relacionamentos interpessoais (habilidades sociais).
Realizar tarefas com sucesso e assertividade traz bem-estar e satisfação. No entanto, aceitar que nem sempre é possível fazer parte de uma vida emocional saudável. “É impossível um indivíduo ser bem-sucedido em tudo o tempo todo e não saber lidar com os próprios erros, limitações e insucessos, o que pode se tornar um problema de ordem emocional”, destaca a terapeuta ocupacional e psicopedagoga, Dionele Eugênio.
Mas diante de uma competitividade desenfreada em que há pouco lugar no mercado de trabalho, os jovens acabam se debruçando cada vez mais nos livros como se a formação acadêmica fosse o passaporte para o sucesso profissional. A vida nos prova que não é bem assim. Nem sempre o nerd tem melhor posição em relação àquele aluno que sentava no fundo da sala, mas cuja habilidade emocional, o levou a um patamar de destaque. A estudante Germana Verri, 14, já vê muita pressão para entrar em uma universidade pública tanto pelo conteúdo maçante que impõe conhecimento nas áreas de Exatas, Humanas e Biológicas, quanto pelos professores que frisam a importância de várias horas de estudo por dia.
Segundo Goleman, uma pessoa que consegue se concentrar no trabalho e finalizar todas as suas tarefas, mesmo se sentindo triste, ansiosa ou aborrecida tem o controle dos sentimentos – um dos principais trunfos para o êxito pessoal e profissional.

“O perfeccionismo afeta o
rendimento das tarefas, o cotidiano e as relações sociais”

A inteligência emocional pode ser considerada mais importante do que a inteligência mental (o conhecido QI), para alcançar a satisfação a nível geral.
O perfeccionismo afeta o rendimento das tarefas, o cotidiano e as relações sociais. “Me sinto muito frustrada quando vejo que meu empenho não me trouxe o resultado que queria”, diz a aluna, que estuda em média 5h por dia.
A psicopedagoga comenta que muitas vezes o perfeccionista mantém-se atrelado em detalhes, fixado em realizar tudo conforme seu conceito de perfeição, gerando um padrão de resistência mental, que instalado, não permite que a pessoa exercite a resiliência, impedindo-o de traçar novas rotas. “Esse padrão de comportamento geralmente é associado à vida adulta, mas as crianças também podem apresentá-lo, especialmente nas atividades escolar e esportiva”, observa.
Desde muito cedo as crianças percebem os reforços positivos ou negativos que suas ações repercutem. Quando os pais apresentam tendência ao perfeccionismo exagerado e transfere isso à criança, gera insegurança, ansiedade e estresse. “Podem ser considerados sinais indicativos do perfeccionismo a não aceitação de notas na escola ou de resultado final de uma competição do esporte favorito em resposta nociva com comportamento agressivo ou depressivo, com hiperfoco na atividade em questão (não conseguindo se envolver com outras tarefas), sentimento de insegurança ou incapacidade”, alerta a especialista.
Exercer a flexibilidade é o nome do jogo quando o tema é promover a capacidade de desenvolvimento dos filhos. Saber lidar com a frustração é um dos maiores desafios propostos em que a cobrança da vida lá na frente será arbitrária a tal ponto de desestabilizar qualquer indivíduo. Atentar-se para depressão, ansiedade e estresse também presentes na infância ajuda a evitar grandes traumas.
Estimular a
saúde emocional
• Conduzir as qualidades e as dificuldades dos filhos com afetividade;
• Evitar falas pejorativas;
• Não comparar o desempenho com o de outras crianças;
• Não realizar tarefas que a própria criança já é capaz de executar por considerar que a mesma não fará impecavelmente;
• Corrigir erros com segurança, mas sem rigidez, gritos ou impaciência;
• Estimular que em caso de resultados indesejados a criança seja capaz de contornar a frustração por meio da persistência, aceitação de limites e autocontrole.

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