Esporte

Escalada

A dedicação em situações extremas

Em busca de emoções e desafios, montanhistas procuram sempre novas experiências e maiores altitudes. O montanhismo, nome dado à prática de subir e escalar montanhas a fim de chegar a seu cume, dá a quem o pratica a possibilidade de estar em contato direto com a natureza, de respirar o ar puro das árvores, apreciar as paisagens agrestes da fauna, ou mesmo dormir debaixo de um céu estrelado. Todos estes condimentos permitem ao homem viver experiências simbólicas e marcantes.
Mas também não é tão fácil como pode acabar parecendo. Segundo Luiz Henrique R. De Carvalho, um dos proprietários da Alsui e montanhista há 16 anos, as experiências envolvem estar diretamente conectado com um clima muito hostil, temperaturas baixíssimas, avalanche, vento, altitude e ar rarefeito. “É inexplicável, mas aqui você amarra o cadarço da sua bota tranquilamente e a seis mil metros de altura isso é muito complicado”, explica o montanhista.
Luiz, que já escalou montanhas importantes como o Monte Everest, entre o Tibet e o Nepal, e o Aconcágua, na Argentina, conta sua experiência com o montanhismo e deixa nítido o seu amor pelo esporte.
Nascido em Itamonte, em Minas Gerais, no alto da Serra da Mantiqueira, desde criança Luiz tem contato com o esporte e teve seu interesse por altitude despertado em uma visita ao Pico das Agulhas Negras, no Rio de Janeiro. “Desde criança eu vou para a montanha, depois parei, mas voltei a escalar e comecei a sair do país, porque aqui no Brasil, infelizmente, a gente não tem. Tem muita praia, mas falta montanha”.
O Peru foi um dos primeiros países onde foi escalar, depois Chile e Argentina. Para ele, além de ser desafiador é um momento de intercâmbio onde é possível encontrar pessoas do mundo todo. Luiz fala sobre os encantamentos do esporte, mesmo com dificuldades.

Pequeno Alpamayo é uma das montanhas mais lindas que já escalei

Luiz Henrique no topo da Huaina Potosi, na Bolívia, a 6088 msnm

Luiz Henrique no topo da Huaina Potosi, na Bolívia, a 6088 msnm

 

 

 

 

 

 

 

 

 

‘O deslocamento para outros países, a logística, a aclimatação ao ar rarefeito que requer vários dias, o clima sempre imprevisível, a dificuldade de conter a ansiedade na noite que antecede o ataque ao cume”.
Sobre o cume, que é o topo da montanha, Luiz confessa que é sempre o maior desejo de um esportista adepto de montanhismo. “Sempre começamos a escalar o último trecho perto da meia-noite, pois durante a madrugada o gelo é mais compacto e torna a escalada mais segura, assim, podemos chegar ao topo junto ao amanhecer e presenciar um nascer do sol incrível”, conta.
Em sua experiência, o montanhista explica que cada local tem seu próprio encanto e nem sempre a montanha de maior altitude é necessariamente a mais encantadora. “Pequeno Alpamayo é maravilhosa, tem pouco mais de cinco mil metros, mas é uma das montanhas mais lindas que já escalei”, comenta o esportista. “Em 2011 fui fazer o reconhecimento do Everest, fiquei 11 dias somente no caminho para o campo-base”, explica. “Para chegar lá, pegamos um voo em Catmandu. É o voo mais perigoso do mundo, a pista é cravada na montanha e muito curta. Se fechar o tempo, você fica preso na pista. Só voa quando está limpo. O avião passa muito perto da montanha e a decolagem é inclinada, então o avião se joga no abismo para plainar e recuperar a altitude, comenta Luiz, que ainda passou por uma trilha, posteriormente, para chegar ao campo-base. “Vão muitas pessoas até lá
porque tem um monastério budista no caminho, tem cidades onde não existem carros ou motos, as pessoas vivem isoladas e com uma cultura muito peculiar, o povo do Nepal é muito cativante”.

 

Montanha Sajama, maior montanha da Bolívia, a 6542 msnm

Montanha Sajama, maior montanha da Bolívia, a 6542 msnm

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CONDIÇÕES
Segundo o montanhista, a sensação de se superar a cada escalada é indescritível, fazendo com que todos os adeptos da prática ignorem quaisquer contratempos que surgem no caminho. “Ano passado estava em uma montanha no Peru e quando estávamos chegando no topo aconteceu uma avalanche. Faltou o equipamento correto para conseguirmos chegar no cume. Nós estávamos no topo, praticamente, mas gostaríamos de chegar na parte onde a vista é maravilhosa e não conseguimos”, explica Luiz, comentando sobre a frustração que faz parte do esporte. “Temos problemas assim, até mesmo de logística, saúde, acidentes acontecem também”.

Topo do pequeno Alpamayo, na Bolívia, a 5425 msnm

Topo do pequeno Alpamayo, na Bolívia, a 5425 msnm

 

 

 

 

 

 

 

 
O brasileiro conta que procura expedições estrangeiras para suas aventuras, devido às dificuldades de encontrar brasileiros montanhistas que vão além de seis mil metros de altitude. São grupos fechados e com membros de vários países, que somam um número de até 15. “Geralmente, chegam ao topo dois ou três, porque é realmente muito difícil. Temos um médico no campo-base e temos a ajuda de um helicóptero de resgate até seis mil metros. Nossa conquista depende do médico, que manda um relatório com a sua condição para o campo-base. Ele define se você continua ou não”, explica.

Topo do Aconcágua - Maior montanha do continente Americano - 6962 msnm (Luiz Henrique ao lado do slováquio Robert Deveka)

Topo do Aconcágua – Maior montanha do continente Americano – 6962 msnm (Luiz Henrique ao lado do slováquio Robert Deveka)

 

Luiz na montanha Chimborazo, no Equador, a 6310 msnm

Luiz na montanha Chimborazo, no Equador, a 6310 msnm

Luiz-Henrique-escalando-as-paredes-geladas-do-Equador

Luiz Henrique escala as paredes geladas do Equador

Montanha Cotopaxi, no Equador, a 5870 msnm

Montanha Cotopaxi, no Equador, a 5870 msnm

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
Segundo ele, a alimentação é muito leve. A aventura é acompanhada basicamente de sopa quente, por causa da altitude e também para manter o corpo aquecido. “Inclusive a água que tomamos precisa ser morna”, comenta.
Além desses fatores, os montanhistas precisam ficar algum tempo parados nas montanhas para o que é conhecido como aclimatação, que é um tempo necessário para que o organismo se acostume à temperatura e altitude da montanha. “Para subir o Aconcágua, por exemplo, subimos três mil metros, ficamos alguns dias, aí subimos para mais 4.800 e ficamos novamente mais um ou dois dias. Tudo para que o corpo se acostume”.
O último lugar que Luiz conheceu foi a Cordilheira Blanca no Peru. “Eu subi uma montanha que se chama Hascaran, é a segunda maior montanha do continente, perdendo apenas para o Aconcágua, mas fui tarde, porque queria assistir a Copa do Mundo, e acabei perdendo a temporada da montanha, onde é possível subir.
Mas vou retornar esse ano”, garante o esportista.
POR QUE AS
MONTANHAS?
Questionado sobre o que o levou a praticar o montanhismo, Luiz explica que o desafio pessoal é o maior motivador. “Você vai tomando gosto da situação, vai até uma altitude, depois quer ir mais alto. Aí se programa para realizar o desafio, sempre quer mais. Aqui no Brasil as montanhas chegam até três mil metros e isso desenvolve o desejo de querer ir mais alto. Depois, você chega nas mais difíceis”.
O Everest, considerado o monte mais alto da Terra, não é o principal desafio do esportista. “Ele é o mais alto, porém está longe de ser o mais difícil. Tem o K2, que é muito difícil e tem a região do Everest, onde morre cerca de cem montanhistas por ano, porque é muito perigosa. Tem montanhas que ficam em locais complicados também, como Mongólia ou Irã, e os montanhistas mais experientes querem ir para esses lugares”, comenta.
Luiz fala também sobre seu desejo futuro de se dedicar inteiramente ao esporte. “Estou conhecendo os lugares para que eu possa me tornar um guia futuramente. Quando uma pessoa vai para a montanha, ela precisa confiar muito em quem está com ela e estou me preparando para ter esse ‘currículo’ mais extenso”.
O apaixonado montanhista conclui. “Valeu a pena ter escolhido esse caminho, as montanhas e os lugares distintos, as pessoas de outros países com seus costumes e culturas diferentes. No fim, todos os montanhistas procuram as mesmas coisas que se pode encontrar nesses ambientes: coragem, alto afirmação e liberdade. A busca por uma sensação inexplicável, que só consegue se ter quando está no topo de uma montanha”, concluiu.

Notícia Anterior

Viajar com seu pet requer cuidados especiais

Próxima Notícia

16 anos de Colégio Conquista