O Tempo e a Felicidade
Certa vez, estávamos minha mãe e eu conversando sobre o tempo que dedicamos às nossas tarefas cotidianas. Desde então, comecei cuidadosamente a observar como funcionava o meu tempo.
É inevitável nos sentirmos pressionados pelo ‘pouco’ tempo que temos para dar conta de tantos afazeres na vida moderna. É um corre-corre que começa com o despertador do celular nos lançando rapidamente para fora da cama, é hora de sair para o trabalho, levar os filhos à escola, preparar o café, limpar a casa, estudar mais um pouquinho antes da prova de logo mais… Ufa! E assim, o dia começa, e com ele, o cronômetro regressivo, quase obsessivo.
É preciso muito foco para não nos perdermos nem nos distrairmos para conseguirmos cumprir a agenda abarrotada de compromissos. Mas, e aí? Para quando fica a nossa felicidade? E o tempo dedicado a nós mesmos? Nosso bem-estar? Nossa alegria? Pois é, não temos muito tempo para sermos felizes e isso é preocupante, sobretudo, triste. Cobramo-nos o tempo todo sobre estarmos sendo produtivos, bons profissionais, bem-sucedidos, populares nas redes sociais… É, estamos muito ocupados ultimamente.
Quanto tempo na semana você consegue tirar para si? Exclusivamente para si?
Para onde os seus olhos se voltam em meio à natureza? Quanto tempo você tem para olhar o céu no outono, por exemplo? Você tem algum tempo para apreciar a beleza que é a vida?
Vivemos acreditando ter todo o tempo do mundo, adiando a felicidade para logo mais.
Essa falsa ideia de eternidade tira-nos a oportunidade de agarrarmos com alegria e contentamento o presente.
A maioria das pessoas deixa a felicidade guardada em uma caixinha para usá-la somente aos finais de semana, que é quando se tem um pouco mais de tempo para fazer algo de que realmente se goste.
A sensação é a de que vivemos acorrentados às nossas próprias escolhas, mas essas escolhas não são feitas através do nosso olhar sereno, a partir do coração. Não temos tempo para isso, não somos criados e estimulados a pensarmos sobre nossos dons e habilidades reais, a experimentá-los, a reconhecermos quais são os presentes que trouxemos dentro de nós para compartilhar e colocá-los a serviço do mundo, da vida, de todo o universo. Infelizmente, basta que sejam apenas escolhas que funcionem para que possamos sobreviver, para que possamos competir no mercado de trabalho, para que possamos acumular bens, para que possamos produzir e consumir o bastante.
E, se pararmos para pensar, cada ser que habita este mundo possui habilidades e dons únicos, que são características intransferíveis presentes em cada um de nós, isso já deveria ser o suficiente para nos tornarmos felizes, realizados e muito bem-sucedidos.
Mas aí, mesmo fazendo o que amamos, é possível que surja novamente a questão do tempo: onde ele está? Pois bem, ainda que estejamos realizando atividades que nos façam felizes, o tempo dedicado continua sendo grande, a diferença é que tem outra qualidade, pois o serviço que é realizado com amor, se torna único.
As pessoas que atendem ao chamado do coração são indiscutivelmente seres privilegiados por terem a semana inteira para serem felizes. Não anseiam pela sexta-feira, nem padecem às segundas. Não sentem que precisam ter tantas coisas, pois quase nada lhes falta. Vivem de acordo com o que verdadeiramente necessitam. São prósperas em todos os sentidos, são leves e têm muito a ensinar, o tempo não briga com elas, nem elas brigam com o tempo.
Entre um caminho e outro, mesmo no carro, se enxerga a vida lá fora. Nas longas filas dos estabelecimentos, se enxerga as pessoas que ali estão, e assim é no supermercado, no trânsito… Há sempre tempo para gentilezas. Há tempo para brincar com os filhos olhando nos olhos deles, para um café fora de hora, um papo gostoso. Há tempo para enxergar o que as pessoas carregam e têm a oferecer também. Quando se tem tempo para viver, tudo se transforma.
Quantas vezes você se permite fazer algo inusitado em plena segunda-feira após o expediente? Mesmo dormindo mais tarde, terça-feira você certamente acordaria mais feliz e disposto.
Não somos robôs, não somos programados para viver a mesma realidade, da mesma forma.
Somos seres breves, abençoados com potenciais únicos, prontos para colocá-los a serviço do tempo. Não se demore, sirva e viva!