CrônicaCultura

Vivemos tempos líquidos. Nada é para durar.

POR Marcelo Gonçalves
Marcelo Gonçalves –
Empreendedor na MARCTECH – Negócios e Consultoria.

O sociólogo Polonês Zygmunt Bauman (1925-2017) é um dos intelectuais mais respeitados da atualidade e seus livros venderam milhares de cópias no Brasil, entre eles o mais popular ‘Amor Liquido’. Nessa obra o autor expõe sua análise de maneira mais simples e próxima do cotidiano, analisando as relações amorosas e algumas particularidades da ‘modernidade líquida’. Vivemos tempos líquidos, nada é feito para durar, tampouco sólido e os relacionamentos escorrem das nossas mãos por entre os dedos, feito água.
Bauman tenta mostrar nossa dificuldade de comunicação afetiva a ideia que todos querem relacionar-se e entretanto não conseguem, por medo ou insegurança. O autor cita como exemplo um vaso de cristal, o qual à primeira queda quebra-se. As relações terminam tão rápido quanto começam, as pessoas pensam terminar com um problema cortando seus vínculos, mas o que fazem mesmo é criar problemas em cima de problemas. Um mundo de incertezas e cada um por si, onde os relacionamentos estão instáveis e as relações humanas cada vez mais flexíveis. Acostumados com o mundo virtual e com a facilidade de ‘desconectar-se’, as pessoas não conseguem manter um relacionamento de longo prazo. É um amor criado pela sociedade atual (modernidade líquida) para excluir a responsabilidade de relacionamentos sérios e duradouros. Pessoas estão sendo tratadas como bens de consumo, ou seja, caso haja defeito descarta-se – ou até mesmo troca-se por ‘versões mais atualizadas’.
O romantismo do amor está fora de moda, o amor verdadeiro foi banalizado, diminuído a vários tipos de experiências vividas por pessoas as quais se referem a estas utilizando a palavra amor. Noites descompromissadas de sexo são chamadas ‘fazer amor’. Não existem mais responsabilidades de se amar, a palavra amor é usada quando as pessoas não sabem direito seu real significado.
Tentando explicar relações amorosas em ‘Amor Liquido’, Bauman fala sobre Afinidade e Parentesco, o parentesco seria o laço irredutível e inquebrável, aquilo que não nos dá escolha. Afinidade é ao contrário do parentesco e voluntária, porém não menos importante, o objetivo da afinidade é ser como o parentesco, mas vivendo em uma sociedade de total ‘descartabilidade’, as afinidades estão se tornando raras.
Ele cita também sobre o amor próprio: afirma que as pessoas precisam sentir que são amadas, ouvidas e amparadas. Precisam saber que fazem falta e, ser digno de amor é algo que só o outro pode nos entregar, aceitar ou não? Com tantas incertezas nas relações líquidas onde o amor pode ser negado, como teremos amor próprio? Amores e relações humanas de hoje são instáveis e assim não temos certeza do que esperar. Relacionar-se é caminhar na neblina sem a certeza de nada e descrição poética da situação.
Para ser feliz há dois valores essenciais que são absolutamente indispensáveis: um é segurança e o outro é liberdade. Você não consegue ser feliz e ter uma vida digna na ausência de um deles. Segurança sem liberdade é escravidão. Liberdade sem segurança é um completo caos. Você precisa dos dois e cada vez que se tem mais segurança, também entrega um pouco da sua liberdade. Se você tem mais liberdade, entrega parte da segurança. Então, você ganha algo e você perde algo, e continuamos vivos. É isso aí meus amigos, reflexão essencial nos dias de hoje.

 

Foto Katzenfee50/Pixabay

 

Notícia Anterior

Dr. Responde Ed. 73ª

Próxima Notícia

Novo Código Civil Brasileiro Ed. 73ª