A ERA DO AFETO DIGITAL
Vi um casal na mesa de um restaurante numa noite, sentados um de frente pro outro, o homem com uma das mãos por cima da mão da mulher, na outra um celular; eles não se olhavam, como se estivessem cada um em um lugar, se comunicando apenas por mensagens ou simplesmente não se comunicando. Ficaram assim por horas, trocavam poucas palavras e logo voltavam a atenção para os seus celulares, fiquei com essa cena na cabeça.
As maneiras de demonstrar afeto parecem ter mudado com o tempo: falta o toque, a presença física, os olhares. O carinho foi substituído por palavras que chegam por qualquer aplicativo de mensagem e que, quem recebe, tem que seguir quase que uma regra aonde fica proibido responder rápido demais, sentir rápido demais. Fica tudo ali guardado, ou esquecido, na memória do celular.
Os beijos na chuva foram quase extintos, não molhar o smartphone no bolso é a prioridade; falta algo, que talvez seja sair um pouco do virtual e voltar a sentir as coisas do mundo, a realidade.
É possível lembrar de um tempo, não tão distante assim, aonde saudade era motivo pra bater na porta e pedir um abraço, onde as crianças brincavam juntas e não por uma tela, aonde os casais se tocavam na pele.
A gente não devia, mas nos acostumamos a muitas visualizações e pouco olho no olho, é tanta gente vazia, tantos ‘amei’ em fotos e pouco amor no dia a dia. Falta presença, sobra saudade, a gente se afoga na ausência e se acostuma, só por vaidade.