Turismo

Mapa dos tesouros

Paraty ou Diamantina. Rio de Janeiro, Ouro Preto, Petrópolis. Pouco importa a origem, o destino e o sentido também. Subidas, descidas e serras são companhia por todo o caminho. Bem como fins de tarde deslumbrantes, cidades coloniais pouco reveladas e uma gastronomia de fazer pensar o tempo todo na próxima refeição. De carro, 4×4, moto, bicicleta ou até caminhando – não importa o meio. Ao percorrer 1,6 mil quilômetros da Estrada Real, o que vale é o caminho em si. E, claro, a história revelada por ele.
Originalmente traçada sobre trilhas indígenas independentes, a partir do século 17 a rota passou a servir para escoamento do ouro produzido em Minas Gerais até o Porto de Paraty – de onde era levado para Portugal. Era do interesse da Coroa que estes caminhos fossem unificados e oficializados não só para garantir a vazão da produção, mas também para fiscalizar e cobrar impostos das riquezas extraídas. E assim instituiu-se a Estrada Real.
Avancemos uns 400 anos no tempo. Depois de muito ouro, boatos, diamantes, inveja, escravos, dor, romances, escultores, causos, viajantes, tropeiros e mulas, o turismo passa a caminhar pela Estrada Real. Inspirada no caso de sucesso do Caminho de Santiago, entre França e Espanha, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) fundou o Instituto Estrada Real em 1999 e, com a ajuda de historiadores, retraçou o trajeto de outrora contemplando 199 municípios de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro.
São três os principais trechos: o Caminho Velho, de Paraty a Ouro Preto, o Caminho Novo, que separa o Rio de Janeiro e Ouro Preto, e o Caminho dos Diamantes, entre Diamantina e Ouro Preto. Além destes, o Sabarabuçu, uma extensão entre São Bartolomeu e Cocais, municípios próximos a Belo Horizonte. Um mar de chão e colinas separa o litoral de Minas Gerais e, portanto, não existe nenhum prazo ou ordem para cumprir o percurso.
Cruzamos os 395 quilômetros da Rota dos Diamantes em cinco dias, a bordo de um 4×4. Já os motociclistas cabo-frienses Antigo e Tuca (na verdade, Erval Azeredo, de 67 anos, e Josias Lopes, de 53) começaram a desbravar a Estrada Real em 2012. “Primeiro fomos de Paraty até Cruzeiro (SP). No ano seguinte, de lá para Ouro Preto. E, este ano, estamos percorrendo em quatro dias o trecho final, até Diamantina”, conta Lopes.
Já o desenhista Daniel Aquino, de 29 anos, que encontramos pouco depois de ele ter saído de Diamantina, preferiu ir a pé mesmo. “Planejo andar cerca de 30 quilômetros por dia. A meta é chegar a Ouro Preto em 15 dias”, previa.

CIDADE DE PARATY

ROTEIRO
“Como saber o caminho certo”? e “é possível errar”? são as perguntas mais frequentes. Porém, com o apoio norteador de 726 placas e 1.926 marcos de concreto de dois metros de altura espalhados a cada dois quilômetros e nas principais bifurcações, o viajante pode ficar tranquilo (mesmo!) para serpentear pelos caminhos que formam a Estrada Real. Quem ainda estiver inseguro, pode acessar o site institutoestradareal.com.br e baixar planilhas e mapas precisos.
Caminhando, pedalando ou dirigindo com atenção, acredite: não dá para se perder.
Evidentemente, quanto menos motorizado e experiente for o viajante, mais duradoura – e intensa, por que não? – a jornada. Considerando os 1,6 mil quilômetros de Diamantina a Paraty, é natural (e recomendado) que se divida o roteiro em trechos. Afinal, a velocidade é o de menos. O que importa é o caminho.
Como 75% da Estrada Real é de terra, um veículo com tração nas quatro rodas facilita bastante. Em média, cinco dias bastam para percorrer, confortavelmente, os 395 quilômetros do Caminho Velho. Um carro convencional aguenta o tranco no mesmo período, porém sofreria desgastes consideráveis nos amortecedores e eixos. Motociclistas experientes podem até percorrer em menos tempo.
A meu ver, a pé e de bicicleta são as formas mais ricas de saborear a jornada, proporcionando um contato mais visceral com o caminho. No pedal, ciclistas experientes precisam de pelo menos dez dias. Caminhantes bem preparados devem reservar 15 dias – em média, a cada 30 quilômetros há uma Vila para servir de ponto de apoio ou pernoite.
Nos moldes do Caminho de Santiago, porém sem o aspecto religioso, o Instituto Estrada Real criou um passaporte, que deve ser carimbado nas paradas. Quem vai pelo Caminho dos Diamantes até Ouro Preto ou Diamantina precisa de pelo menos dez carimbos para ganhar um certificado de conclusão do trajeto.
A novidade é que, desde ontem, estão ativos 17 pontos de carimbo no Caminho Velho – nesse trecho, são necessários 14 carimbos para conseguir o certificado. Tanto os passaportes quanto os certificados podem ser emitidos em Diamantina, Ouro Preto e Paraty. Uma lembrança carinhosa de sua própria história.

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